Observatório do Desenvolvimento Capixaba

A ARMADILHA DA ZONA DE CONFORTO I: A DINÂMICA CAPIXABA E O “CRESCIMENTO ACIMA DA MÉDIA NACIONAL”

Ednilson Felipe e Érika Leal

Observatório do Desenvolvimento Capixaba

Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Pib do segundo trimestre do Brasil e o Instituto Jones dos Santos Neves, em parceria com o IBGE, divulgou o Pib desse período para o Espírito Santo.

Os dados divulgados apontam para a necessidade de algumas reflexões que, ao longo de 3 textos, queremos destacar. Este primeiro centra na constatação de que o Espírito Santo está longe de uma zona de conforto quando se olha sua dinâmica econômica. Muito ao contrário disso. Vale dizer que embora algumas políticas do Governo capixaba tenham se mostrado acertadas – principalmente em função dos desafios continuados da pandemia Covid 19 – elas não são suficientes para superar os desafios que já têm se apresentado ao longo do tempo. O Observatório do Desenvolvimento Capixaba tem alertado para uma problemática estrutural que tem, nos últimos anos, forçado uma queda significativa da dinâmica econômica capixaba.

Os resultados divulgados mostram, novamente e de forma inequívoca a redução do ritmo de crescimento da economia capixaba. Por mais que se esforce para mostrar que no acumulado do ano – ou no confronto do trimestre do ano anterior contra o trimestre desse ano -, os dados capixabas ficam acima da média nacional, o fato é que a economia capixaba, no segundo trimestre de 2022 não acompanhou o ritmo de crescimento do Brasil. Enquanto o Brasil cresceu 1,2%, o Espírito Santo encolheu -0,3%.

Os números mais animadores, em geral, são resultado do crescimento do setor de serviços, com expansão +41,4% em Serviços prestados às famílias e crescimento de +13,9% em Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (IJSN, 2022).

Por outro lado, o baixo dinamismo é puxado pelo resultado negativo da Indústria Geral. Embora a Indústria de Transformação apresente expansão de 4,4%, a retração de -12,6% na Indústria Extrativa puxa para baixo o resultado geral. Dentre os setores, podemos destacar: Fabricação de produtos alimentícios (+12,1%); Fabricação de celulose, papel e produtos de papel (+10,9%) e Metalurgia (+3,3%) e, em sentido oposto, a atividade de Fabricação de minerais não metálicos (-7,8%), que registrou recuo na produção.

Como a economia capixaba é muito impactada pela dinâmica externa, é preciso considerar, também, a queda nos preços das principais commodities que exportamos. Esta queda também está ligada às dificuldades enfrentadas pela China, um dos nossos principais parceiros comerciais.

Não há mistérios na economia capixaba. Ao longo de décadas, se consolidou – e ainda hoje é reforçada – uma estrutura produtiva pouco diversificada e encontra-se cada dia mais dependente de poucos setores altamente vulneráveis a choques externos. O ODC se junta, nesse sentido, a vários pesquisadores e estudiosos da economia capixaba que, ao longo de anos, tem chamado atenção dos gestores públicos neste sentido. E há possibilidades de diversificação: há novas possibilidades tecnológicas, ambientais, setoriais que devem ser exploradas para sairmos dessa armadilha da zona de conforto (tema que será tratado no texto III).

O ODC, acompanhando com o devido cuidado o desempenho econômico do Espírito Santo, tem sistematicamente alertado para o fato de que a última década não foi favorável para a economia estadual. Os estudos divulgados têm mostrado que antes mesmo da pandemia os desafios já eram enormes para a economia estadual.

Vale a pena relembrar alguns dados pretéritos no sentido de fazer entender que os desafios já se delineavam desde anos atrás.

Os dados do IJSN já mostravam, para o período de 2011 a 2019, que a taxa de crescimento real do produto capixaba declinou 5 vezes em relação ao ano anterior, sendo os anos de 2016 e 2019 os de maiores quedas.

Em 2019, a taxa de crescimento real do PIB foi (-3,8%) a menor taxa do Brasil. Ainda no período de 9 anos (2011-2019), a taxa de crescimento da economia estadual ficou abaixo da nacional em 5 anos. E deve-se considerar que mesmo a taxa de crescimento nacional foi drasticamente baixa. Então é preciso ter muita cautela ao afirmar que a economia do Espírito Santo cresce acima da economia nacional como recorrente aprendemos a falar. Essa máxima já não tem sido mais a regra, como pode ser visto no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Variação em volume do Produto Interno Bruto, Brasil, Sudeste e Espírito Santo, 2011-2019

Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves (2021)

A desaceleração das economias brasileira e capixaba não é um fenômeno recente. Diversos estudiosos já têm apontado essa questão em suas análises. Caliman (2021) calculou as taxas anuais médias de variação do Pib real nos últimos 50 anos para as economias brasileira e capixaba. Neste sentido, restou claro que na segunda década do século XXI a taxa de variação anual média da economia capixaba ficou inferior à brasileira, como mostra o Gráfico 2.

Gráfico 2 – Taxas Anuais Médias de Variação do Pib Real Distribuídas por Décadas

Fonte: Caliman (2021) a partir de dados do Instituto Jones dos Santos Neves

Ainda de forma retrospectiva – no sentido de evidenciar que as questões estruturais têm contraído as possibilidades potenciais da economia capixaba, a tabela abaixo mostra que em 10 anos a economia capixaba perdeu 3 posições no ranking do Pib dos estados do Brasil. Em 2011, éramos a 11ª economia do país e desde 2019 estamos estacionados na 14ª posição. Fomos ultrapassados por economias até então menos dinâmicas como o Pará, Mato Grosso e Ceará.

Tabela 1 – Posição das UF´s no ranking do Pib

Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves (2021)

Esse baixo dinamismo da economia estadual acabou por repercutir, como consequência lógica, na redução da renda per capita do capixaba que também tem sofrido quedas em termos reais. Com a queda do Pib e aumento da população, o Espírito Santo que possuía em 2011, a 4ª renda per capita nacional, em 2019 estava posicionado na 9ª posição. Perdemos 5 posições em uma década, sendo ainda a situação mais crítica em 2017, quando chegamos na 10ª posição no Pib per capita como pode ser visto na Tabela 2.

Tabela 2 – Posição das UF´s no PIB per capita

Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves (2021)

Do discutido aqui alguns pontos se mostram necessários ao debate mais aprofundado, a realização de estudos e pesquisas prospectivas e, sobretudo, para que se aumente a sensibilidade dos gestores públicos em termos de perceber a necessidade premente de desenhar políticas de médio e longo prazo que abram novos horizontes para a economia capixaba:

  • Para além da publicização de dados pontuais, é preciso uma análise estrutural de longo prazo e esta tem apontado para a necessidade de abrir horizontes para novos saltos dinâmicos (quantitativos e qualitativos) da economia capixaba. Esse debate, embora seja as vezes apontado, precisa repercutir num projeto de revitalização e redinamização de longo prazo da economia capixaba;
  • Não se pode estacionar numa zona de conforto. Não há espaços para acomodações. Os dados de renda per capita – que refletem diretamente na vida das comunidades espalhadas no território – levantam um sinal amarelo de que medidas precisam ser pensadas e tomadas. Fazer mais do mesmo não é mais uma opção para reverter os dados estruturais;
  • Há possibilidades no horizonte. Porém, elas precisam ser objetos de política pública indutivas e facilitadoras. O desenvolvimento é um processo complexo e sua janela de oportunidade não fica aberta permanentemente. A mobilização para novos saltos dinâmicos precisa ser constante e urgente.

REFERÊNCIAS

CALIMAN, O. Economia Capixaba no Século XXI. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HApF_RIlVww. Acesso em 18 de março de 2022.

INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES (IJSN). Espírito Santo – Produto Interno Bruto (2019). Vitória, 2021. Disponível em: http://www.ijsn.es.gov.br/component/attachments/download/7671. Acesso em 26 de Fevereiro de 2022.

INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES. Investimentos anunciados e concluídos no Espírito Santo (2013-2018), 2014. Disponível em: http://www.ijsn.es.gov.br/artigos/4111-investimentos-anunciados-2013-2018. Acesso em 10 de março de 2022.

INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES. Investimentos anunciados e concluídos no Espírito Santo (2019-2024), 2021. Disponível em: http://www.ijsn.es.gov.br/assuntos/investimentos. Acesso em 10 de março de 2022.

INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES. Indicador Trimestral de PIB do Espírito Santo, 2022. Disponível em: http://www.ijsn.es.gov.br/attachments/article/6304/PIB_Trimestral_2022_II.pdf. Acesso em 04 de setembro de 2022.

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