A fraca recuperação cíclica da economia brasileira vem sendo objeto de bons debates e os seus desdobramentos geográficos chamam a atenção de especialistas e estudiosos. Desde o início da recessão brasileira, no segundo trimestre de 2014, os diagnósticos sobre a crise variam e apontam em sentidos diferentes no campo das políticas públicas. A busca por uma “contração fiscal expansionista” desde 2015, algo muito criticado por Paul Krugman e Joseph Stiglitz, dois célebres economistas vencedores do Prêmio do Banco da Suécia para as Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, não apresenta resultados animadores.
Em um país tão carente de infraestrutura básica, não deveria ser algo tão difícil priorizar os investimentos públicos e privados. No entanto, incertezas de diversas ordens se encontram presentes no grande imbróglio nacional. As unidades federativas têm buscado se virar com os instrumentos de indução que possuem, ainda que sob as críticas quanto às faltas de transparência e de avaliação de resultados, como é o caso dos incentivos fiscais. Seguindo a lógica da precarização no mercado de trabalho nacional, os desdobramentos regionais têm sido dramáticos. O empobrecimento da população é visto nas ruas das principais cidades do Brasil. As estatísticas também têm captado esse fenômeno desde 2015.
Divulgado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), em janeiro, o boletim sobre o emprego formal traz informações relevantes para a nossa avaliação. Tendo como base o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), destaca-se que em dezembro de 2019 foram suprimidos 3.846 postos de trabalho com carteira assinada no Espírito Santo. O saldo acumulado nos últimos 12 meses foi de 19.537 postos formais. Em dezembro, todas as unidades federativas apresentaram diminuição no emprego formal e o estoque de emprego formal caiu em relação ao mês de novembro.
O salário médio nacional de admissão em dezembro de 2019 foi de R$1.595,53 e o salário médio de desligamento foi de R$1.811,78. Tal fato está alinhado com o avanço da precarização laboral no país, com os seus desdobramentos regionais. Em novembro de 2019, o Observatório do Desenvolvimento Capixaba (ODC) apresentou o Índice de Qualidade do Emprego Formal no Espírito Santo (IQEF-ES). Revelamos então que é estruturalmente baixa a qualidade do emprego formal no Espírito Santo, algo que está intimamente relacionado com a baixa sofisticação da estrutura produtiva capixaba. A temática da complexidade econômica deveria ser objeto de maior atenção da parte dos formuladores de políticas públicas.
Ainda que algum alívio possa vir logo adiante em termos de aumento do crescimento econômico, o quadro geral acima descrito dificilmente se alterará estruturalmente no Espírito Santo. De acordo com as estatísticas do IBGE, as desigualdades sociais são extremas no Espírito Santo. Nesse sentido, a elevação do crescimento com base na estrutura produtiva vigente não modificará estruturalmente o quadro geral da qualidade do emprego formal e das desigualdades sociais no Espírito Santo. Precisamos repensar o modelo de desenvolvimento, levando em conta a redução das desigualdades e a sustentabilidade socioambiental.